quarta-feira, 2 de maio de 2012

PRECISAMOS FAZER RESSUSCITAR...


PRECISAMOS FAZER RESSUSCITAR...

Esta modesta reflexão foi elaborada a partir de uma mensagem publicada no Informativo “O REDENTOR”, da Paróquia Cristo Redentor de Feira de Santana, Bahia.





Nestes cinquenta dias entre a Páscoa e Ressurreição do Senhor e o Dia de Pentecostes, somos chamados a refletir sobre o sentido da ressurreição e descobrir que ela só acontecerá se a fizermos presente entre nós no dia a dia de nossa caminhada. E isto só será possível se praticarmos com fidelidade as atitudes que Jesus nos ensinou. Por isso, precisamos ressuscitar:


1.   O sublime amor entre irmãos, quebrando preconceitos e aceitando os diferentes.

Esta sempre foi a prática de Jesus, que demonstrou seu amor para com todos, sem distinguir raça, gênero, classe social ou qualquer outro atributo. Basta lembrar que ele manteve um interessante diálogo com a mulher siro-fenícia, deixando claro que o Reino é para todos. Neste diálogo, Jesus quebra dois tabus do judaísmo, colocando uma mulher em situação de igualdade com o homem e aparentemente, aceitando a admoestação que ela Lhe faz; ao mesmo tempo, acolhe e conversa com uma pagã, o que era impensável naquele tempo e lugar. Jesus conversa também com a samaritana à beira do poço, pedindo-lhe água para saciar a sede física e lhe oferecendo água para saciar a sede espiritual. Ele também coloca em destaque a ação de alguém excluído pelos judeus na parábola do bom samaritano. Dedica um amor especial aos leprosos, aos surdos e mudos, aos pobres. Jesus enfim, nos pede para ressuscitarmos o amor ao próximo mostrando que só assim provamos nosso amor a Deus.


2.   A preocupação com os excluídos, buscando formas concretas de inclusão social.

Este ressuscitar o amor ao próximo só terá valia se estiver acompanhado de uma real preocupação com os excluídos, no sentido de fazê-los integrantes da sociedade, ou seja, do nosso convívio, através de formas concretas de inclusão. Isto significa fazer com que todos (pobres, doentes, dependentes físicos e químicos, portadores de necessidades especiais, etc.) se sintam integrados e iguais em obrigações e direitos, sentindo-se úteis para a sociedade.   


3.   A amizade desinteressada, estabelecendo laços sinceros de reciprocidade mútua.

Aqui está uma das ressurreições mais necessárias em nossos dias: a da verdadeira amizade. Aquela amizade que nos faz ingressar na vida do outro como se fossemos cosanguíneos. Percebemos que atualmente as amizades se prendem mais a interesses econômicos, a interesses rasteiros na busca de favores individuais, à efemeridade destes interesses. Faz-se necessário e urgente ressuscitar aquela amizade desinteressada que cria profundos vínculos entre as pessoas, fundada na reciprocidade de relações de mútua ajuda e colaboração em todos os campos da vida.  


4.   A convivência familiar que afaga, escuta e partilha, objetivando fortalecer os vínculos entre pais e filhos.

É inegável que a convivência familiar hoje, via de regra, está completamente deteriorada. Somos reféns dos meios de comunicação de massa, que nos impingem como realidade relações familiares conflituosas e calcadas em interesses materiais. E nós estamos absorvendo tudo isso como uma verdade inconteste e aceitando como normais tais relacionamentos. O diálogo é tido como coisa ultrapassada; o carinho e o afago entre pais e filhos são vistos como fraqueza; a partilha e a busca de conselhos entre os jovens acontecem mais entre as amizades deturpadas do que entre os familiares. Ressuscitar a convivência familiar é fortalecer a família e a juventude, que vive hoje no “mundo do faz de conta”.


5.   A confiança nos jovens, respeitando as suas opiniões.

Atualmente se olha a juventude com desconfiança, descartando-se suas opiniões e lhes negando qualquer valor. No âmbito familiar, na maioria das vezes, os jovens são tidos apenas como crianças, sem direito a voz e vez. A culpa deste jeito de viver, provavelmente, seja recíproca entre adultos e jovens, mas não adianta viver do passado e buscar culpados. É preciso recuperar, sem peias do que se foi, a importância da juventude e entender que eles serão os adultos de amanhã. Esta recuperação, é certo, passa pela convivência familiar. Mas passa, principalmente, pelo respeito aos jovens e as suas opiniões. Na valorização do jovem estará a valorização do futuro.

      
6.   O sorriso das crianças desprovidas de afeto, alimento e moradia, promovendo meios para verem respeitados seus direitos garantidos por Lei.

Extremamente preocupante é ver crianças da mais tenra idade jogada nas calçadas da vida. Pedintes de moedas para comprar o alimento que o pai e mãe não podem ou não querem dar. Às vezes, abandonadas pela família, filhos de pais e mães dependentes químicos. Crianças que perderam o sorriso e a esperança. Que perderam o afeto e vão perdendo a autoestima, no cominho seguro para a marginalidade. Ressuscitar o sorriso e a esperança destas crianças é uma das coisas mais importantes a fazer.


7.   A autoestima dos idosos, incentivando-os a produzirem e sentirem-se úteis.

Pensar na tristeza de se sentir inútil e desprezado deve ser nossa preocupação constante, pois é isto que nos espera num futuro não muito distante. À exceção daqueles que partirão precocemente, todos nós seremos idosos um dia. E isto não é coisa só de cabeça, é uma questão biológica. No entanto, boa parte, senão a maioria dos idosos está excluída da sociedade. São considerados “descartáveis”, pois se tornaram peso para os mais jovens. No entanto, somos a continuidade do que eles foram no passado e precisamos valorizar os idosos enquanto os temos ao nosso lado. Precisamos beber da experiência que eles adquiriram e a produzirem a partir desta experiência. Se a idade não permite que exerçam as mesmas atividades da juventude e da meia idade, isto não significa que não possam executar atividades outras que serão tão ou mais valiosas do que aquelas. Alternativas e incentivo poderão fazer de nossos idosos pessoas mais felizes e talvez, tão produtivas como outrora.


8.   Enfim, precisamos mesmo fazer ressuscitar o verdadeiro sentido de sermos cristãos, vivenciando o evangelho na prática!

Ser cristão não é apenas acreditar em Deus e em Cristo como seu filho unigênito. Ser cristão é praticar os ensinamentos que Jesus nos legou, o amor que Ele demonstrou pela humanidade, a fidelidade ao projeto do Pai que Ele seguiu até a morte pelo martírio da Cruz.

Ser cristão é pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, amar como Jesus amou. Isto é ressuscitar todos os dias.

É isto que precisamos fazer ressuscitar.

Gazato

Um comentário:

  1. Quando escrevi a mensagem às pressas, pois faltou um artigo esperado, imaginei cada uma dessas situações...fiquei muito na dúvida se não estava levando muito ao perfil do meu curso (Serviço Social), mas depois que li esta rica reflexão tive a certeza que podemos e devemos conectar a vivência cristã a politica, aos direitos humanos, as diversidades....alíás, podemos não, devemos!!

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