PRECISAMOS FAZER
RESSUSCITAR...
Esta
modesta reflexão foi elaborada a partir de uma mensagem publicada no
Informativo “O REDENTOR”, da Paróquia Cristo Redentor de Feira de Santana,
Bahia.
Nestes
cinquenta dias entre a Páscoa e Ressurreição do Senhor e o Dia de Pentecostes, somos
chamados a refletir sobre o sentido da ressurreição e descobrir que ela só
acontecerá se a fizermos presente entre nós no dia a dia de nossa caminhada. E
isto só será possível se praticarmos com fidelidade as atitudes que Jesus nos
ensinou. Por isso, precisamos ressuscitar:
1.
O sublime amor entre irmãos,
quebrando preconceitos e aceitando os diferentes.
Esta
sempre foi a prática de Jesus, que demonstrou seu amor para com todos, sem
distinguir raça, gênero, classe social ou qualquer outro atributo. Basta
lembrar que ele manteve um interessante diálogo com a mulher siro-fenícia,
deixando claro que o Reino é para todos. Neste diálogo, Jesus quebra dois tabus
do judaísmo, colocando uma mulher em situação de igualdade com o homem e
aparentemente, aceitando a admoestação que ela Lhe faz; ao mesmo tempo, acolhe
e conversa com uma pagã, o que era impensável naquele tempo e lugar. Jesus conversa
também com a samaritana à beira do poço, pedindo-lhe água para saciar a sede
física e lhe oferecendo água para saciar a sede espiritual. Ele também coloca
em destaque a ação de alguém excluído pelos judeus na parábola do bom
samaritano. Dedica um amor especial aos leprosos, aos surdos e mudos, aos
pobres. Jesus enfim, nos pede para ressuscitarmos o amor ao próximo mostrando
que só assim provamos nosso amor a Deus.
2.
A preocupação com os excluídos,
buscando formas concretas de inclusão social.
Este
ressuscitar o amor ao próximo só terá valia se estiver acompanhado de uma real
preocupação com os excluídos, no sentido de fazê-los integrantes da sociedade,
ou seja, do nosso convívio, através de formas concretas de inclusão. Isto
significa fazer com que todos (pobres, doentes, dependentes físicos e químicos,
portadores de necessidades especiais, etc.) se sintam integrados e iguais em
obrigações e direitos, sentindo-se úteis para a sociedade.
3.
A amizade desinteressada,
estabelecendo laços sinceros de reciprocidade mútua.
Aqui
está uma das ressurreições mais necessárias em nossos dias: a da verdadeira
amizade. Aquela amizade que nos faz ingressar na vida do outro como se fossemos
cosanguíneos. Percebemos que atualmente as amizades se prendem mais a
interesses econômicos, a interesses rasteiros na busca de favores individuais,
à efemeridade destes interesses. Faz-se necessário e urgente ressuscitar aquela
amizade desinteressada que cria profundos vínculos entre as pessoas, fundada na
reciprocidade de relações de mútua ajuda e colaboração em todos os campos da
vida.
4.
A convivência familiar que afaga,
escuta e partilha, objetivando fortalecer os vínculos entre pais e filhos.
É
inegável que a convivência familiar hoje, via de regra, está completamente
deteriorada. Somos reféns dos meios de comunicação de massa, que nos impingem como
realidade relações familiares conflituosas e calcadas em interesses materiais.
E nós estamos absorvendo tudo isso como uma verdade inconteste e aceitando como
normais tais relacionamentos. O diálogo é tido como coisa ultrapassada; o
carinho e o afago entre pais e filhos são vistos como fraqueza; a partilha e a
busca de conselhos entre os jovens acontecem mais entre as amizades deturpadas
do que entre os familiares. Ressuscitar a convivência familiar é fortalecer a
família e a juventude, que vive hoje no “mundo do faz de conta”.
5.
A confiança nos jovens, respeitando
as suas opiniões.
Atualmente
se olha a juventude com desconfiança, descartando-se suas opiniões e lhes
negando qualquer valor. No âmbito familiar, na maioria das vezes, os jovens são
tidos apenas como crianças, sem direito a voz e vez. A culpa deste jeito de
viver, provavelmente, seja recíproca entre adultos e jovens, mas não adianta
viver do passado e buscar culpados. É preciso recuperar, sem peias do que se
foi, a importância da juventude e entender que eles serão os adultos de amanhã.
Esta recuperação, é certo, passa pela convivência familiar. Mas passa,
principalmente, pelo respeito aos jovens e as suas opiniões. Na valorização do
jovem estará a valorização do futuro.
6.
O sorriso das crianças desprovidas
de afeto, alimento e moradia, promovendo meios para verem respeitados seus direitos
garantidos por Lei.
Extremamente
preocupante é ver crianças da mais tenra idade jogada nas calçadas da vida.
Pedintes de moedas para comprar o alimento que o pai e mãe não podem ou não
querem dar. Às vezes, abandonadas pela família, filhos de pais e mães
dependentes químicos. Crianças que perderam o sorriso e a esperança. Que
perderam o afeto e vão perdendo a autoestima, no cominho seguro para a
marginalidade. Ressuscitar o sorriso e a esperança destas crianças é uma das
coisas mais importantes a fazer.
7.
A autoestima dos idosos,
incentivando-os a produzirem e sentirem-se úteis.
Pensar
na tristeza de se sentir inútil e desprezado deve ser nossa preocupação
constante, pois é isto que nos espera num futuro não muito distante. À exceção
daqueles que partirão precocemente, todos nós seremos idosos um dia. E isto não
é coisa só de cabeça, é uma questão biológica. No entanto, boa parte, senão a
maioria dos idosos está excluída da sociedade. São considerados “descartáveis”,
pois se tornaram peso para os mais jovens. No entanto, somos a continuidade do
que eles foram no passado e precisamos valorizar os idosos enquanto os temos ao
nosso lado. Precisamos beber da experiência que eles adquiriram e a produzirem
a partir desta experiência. Se a idade não permite que exerçam as mesmas
atividades da juventude e da meia idade, isto não significa que não possam
executar atividades outras que serão tão ou mais valiosas do que aquelas.
Alternativas e incentivo poderão fazer de nossos idosos pessoas mais felizes e talvez,
tão produtivas como outrora.
8.
Enfim, precisamos mesmo fazer
ressuscitar o verdadeiro sentido de sermos cristãos, vivenciando o evangelho na
prática!
Ser
cristão não é apenas acreditar em Deus e em Cristo como seu filho unigênito.
Ser cristão é praticar os ensinamentos que Jesus nos legou, o amor que Ele
demonstrou pela humanidade, a fidelidade ao projeto do Pai que Ele seguiu até a
morte pelo martírio da Cruz.
Ser
cristão é pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, amar como Jesus
amou. Isto é ressuscitar todos os dias.
É
isto que precisamos fazer ressuscitar.
Gazato