quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PATROLOGIA E PATRÍSTICA 01 - Introdução

PATROLOGIA E PATRÍSTICA - Introdução



Iniciamos em nosso site um estudo sobre os Pais da Igreja e achamos interessante replicá-lo aqui em nosso blog, na medida em irá se desenvolvendo por lá.

Tanto Patrologia quanto Patrística, como os próprios nomes sugerem, deriva de pai ou padre. Para o cristianismo, se refere ao período compreendido pelos primeiros sete séculos depois de Cristo, nos quais foram elaboradas as bases da filosofia cristã pelos "Padres da Igreja". Abaixo, duas boas explicações sobre este período. Pretende-se, nesta seção, não só a publicação das biografias dos Padres da Igreja, mas também dos trabalhos, estudos e tratados produzidos pelos "Padres da Igreja" e por seus seguidores.  

Revendo conceitos: Quando abrimos esta página no site, a denominamos simplesmente de "Patrística", muito embora já tínhamos ouvido e lido o termo "patrologia" em inúmeras ocasiões. Para nós, a princípio, ambos os termos se referiam à mesma disciplina. Ao iniciarmos a preparação das matérias para aqui serem postadas, descobrimos o quanto estávamos equivocados a esse respeito, pois os citados termos se referem a coisas distintas, como nos ensina a Dra. Teresa Pereira em seu artigo «Patrologia» e «Patrística»: Âmbito e definições, publicado no site ECCLESIA e que aqui republicamos. Como nosso propósito nesta página é apresentar os Pais da Igreja e suas obras, além dos estudos e artigos posteriores a eles relacionados, fica evidente que as duas disciplinas se entrelaçarão. Daí, alterarmos o título da página no site para "Patrologia e Patrística". Ao lerem o artigo da Dra. Teresa Pereira entenderão nossa posição. Na sequência deste artigo, postamos uma "introdução" aos "Padres da Igreja" e depois, as informações sobre cada um deles. Procuraremos manter a sequência cronológica, embora, normalmente estejam eles estejam separados em quatro grupos distintos, a saber: "Padres Apostólicos", "Padres Gregos", "Padres Latinos" e "Padres do Deserto". Na matéria referente a cada um deles, será informado a que grupo pertence.  


Patrística
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Patrística é o nome dado à filosofia cristã dos primeiros sete séculos, elaborada pelos Padres da Igreja, os primeiros teóricos —- daí "Patrística" —- e consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos "pagãos" e contra as heresias.
Foram os pais da Igreja responsáveis por confirmar e defender a fé, a liturgia, a disciplina, criar os costumes e decidir os rumos da Igreja, ao longo dos sete primeiros séculos do Cristianismo. É a Patrística, basicamente, a filosofia responsável pela elucidação progressiva dos dogmas cristãos e pelo que se chama hoje de Tradição Católica.
Tradição
Quando o Ocidentalismo, para defender-se de ataques polêmicos, teve de esclarecer os próprios pressupostos, apresentou-se como a expressão terminada da verdade que a filosofia grega havia buscado, mas não tinha sido capaz de encontrar plenamente, enquanto a Verdade mesma não tinha ainda se manifestado aos homens, ou seja, enquanto o próprio Deus não havia ainda encarnado.
De um lado, se procura interpretar o Cristianismo mediante conceitos tomados da filosofia grega, do outro reporta-se ao significado que esta última dá ao Cristianismo. Os primeiros pensadores cristãos, ao mesmo tempo em que se valeram, também se debateram com os filósofos, quer com Platão e com Aristóteles, quer, sobretudo, com os estóicos e com os epicureus. Sem perder de vista os ideais da doutrina cristã, eles buscaram encontrar, frente à filosofia e aos filósofos, o lugar apropriado da reflexão filosófica e do pensar cristão.
É comum a afirmação de que o Cristianismo primitivo sofreu influências de vários setores da Filosofia Grega - de Platão, de Aristóteles, dos epicuristas e dos estóicos - sem que se determine claramente a amplitude e os limites de tais influências. Também é comum dizer-se que os filósofos convertidos ao Cristianismo buscaram dar à doutrina cristã um status filosófico, mas sem o cuidado de salientar as fontes das quais se serviram ou sem analisar os conceitos dos quais se apropriaram... (SPINELLI, 2002, p. 3). Foram vários autores que se ocuparam dessa tarefa: Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio de Cesareia, Gregório de Nissa...
Ou como resume Johannes Hirschberger:
Tratando-se de filosofia patrística, não devemos, como outrora, pensar somente nas obras de filósofos que só foram filósofos. A filosofia da patrística está antes contida nos tratados dos pastores de alma, pregadores, exegetas, teólogos, apologetas que buscam antes de tudo a exposição da sua doutrina religiosa. Mas ao mesmo tempo, levados pela natureza das cousas e dada a ocasião, se põem - a resolver problemas propriamente pertencentes à filosofia; e então, pela força do assunto, versam a metodologia filosófica.
– HIRSCHBERGER, 1966.
A figura de maior destaque dessa corrente de pensamento cristão é Santo Agostinho.
Divisão didática
A Patrística divide-se geralmente em três períodos:
  • até o ano 200 dedicou-se à defesa do Cristianismo contra seus adversários (padres apologistas, como São Justino Mártir, etc.).
  • até o ano 450 é o período em que surgem os primeiros grandes sistemas de filosofia cristã (Santo Agostinho, Clemente Alexandrino, etc.).
  • até o século VIII reelaboram-se as doutrinas já formuladas e de cunho original (Boécio, etc.).
Esta divisão da Literatura Patrística em três períodos é geralmente feita, mais didaticamente, da seguinte forma:
  • Período ante-niceno - corresponde ao período anterior ao Concílio Ecumênico de Nicéia (324 d.C). Geralmente compreende os escritos surgidos entre o século I e início do IV século.
  • Período niceno - corresponde ao período entre os anos anteriores até alguns imediatamente posteriores ao Concílio Ecumênico de Nicéia (324 d.C). Geralmente compreende os escritos surgidos entre o início do IV século até o final deste.
  • Período pós-niceno - corresponde ao período compreendido entre os V e VIII séculos.
O legado da Patrística foi passado à Escolástica.
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PATRÍSTICA

 A patrística procurou conciliar as verdades da revelação bíblica com as construções do pensamento próprias da filosofia grega. A maior parte de suas obras foi escrita em grego e latim, embora haja também muitos escritos doutrinários em aramaico e outras línguas orientais.

Patrística é o corpo doutrinário que se constituiu com a colaboração dos primeiros padres da igreja, veiculado em toda a literatura cristã produzida entre os séculos II e VIII, exceto o Novo Testamento.

O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos primórdios do cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não sustentado por uma filosofia. Na luta contra o paganismo greco-romano e contra as heresias surgidas entre os próprios cristãos, no entanto, os padres da igreja se viram compelidos a recorrer ao instrumento de seus adversários, ou seja, o pensamento racional, nos moldes da filosofia grega clássica, e por meio dele procuraram dar consistência lógica à doutrina cristã.

O cristianismo romano atribuía importância maior à fé; mas entre os padres da igreja oriental, cujo centro era a Grécia, o papel desempenhado pela razão filosófica era muito mais amplo e profundo. Os primeiros escritos patrísticos falavam de martírios, como A paixão de Perpétua e Felicidade, escrito em Cartago por volta de 202, durante o período em que sua autora, a nobre Perpétua, aguardava execução por se recusar a renegar a fé cristã. Nos séculos II e III surgiram muitos relatos apócrifos que romantizavam a vida de Cristo e os feitos dos apóstolos.

Em meados do século II, os cristãos passaram a escrever para justificar sua obediência ao Império Romano e combater as idéias gnósticas, que consideravam heréticas. Os principais autores desse período foram são Justino mártir, professor cristão condenado à morte em Roma por volta do ano 165; Taciano, inimigo da filosofia; Atenágoras; e Teófilo de Antioquia. Entre os gnósticos, destacaram-se Marcião, que rejeitava o judaísmo e considerava antitéticos o Antigo e o Novo Testamento.

No século III floresceram Orígenes, que elaborou o primeiro tratado coerente sobre as principais doutrinas da teologia cristã e escreveu Contra Celsum e Sobre os princípios; Clemente de Alexandria, que em sua Stromata expôs a tese segundo a qual a filosofia era boa porque consentida por Deus; e Tertuliano de Cartago. A partir do Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, o cristianismo deixou de ser a crença de uma minoria perseguida para se transformar em religião oficial do Império Romano. Nesse período, o principal autor foi Eusébio de Cesaréia. Dentre os últimos padres gregos destacaram-se, no século IV, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa e João Damasceno.

Os maiores nomes da patrística latina foram santo Ambrósio, são Jerônimo (tradutor da Bíblia para o latim) e santo Agostinho, este considerado o mais importante filósofo em toda a patrística. Além de sistematizar as doutrinas fundamentais do cristianismo, desenvolveu as teses que constituíram a base da filosofia cristã durante muitos séculos. Os principais temas que abordou foram as relações entre a fé e a razão, a natureza do conhecimento, o conceito de Deus e da criação do mundo, a questão do mal e a filosofia da história.

Fonte: ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

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«Patrologia» e «Patrística»: Âmbito e definições
Dra. Teresa Pereira



Ainda que pareça tratar-se, segundo a opinião de alguns, de uma só e mesma área de estudo, a «Patrologia» e a «Teologia Patrística » possuem, no entanto, âmbitos bem determinados.

A «Instrução sobre o Estudo dos Padres da Igreja na Formação Sacerdotal» (IEP), publicada em Roma pela Congregação para a Educação Católica, em 10 de Novembro de 1989, distingue uma e outra, muito embora não deixe de relacioná-las intimamente.
Assim, no nº 49, afirma que «a Patrística ocupa-se do pensamento teológico dos Padres» e «a Patrologia tem por objeto a vida e os escritos dos mesmos». Deste modo, enquanto a primeira possui um caráter doutrinal e, portanto, teológico, a segunda move-se mais no contexto da indagação histórica e da informação bibliográfica e literária. Tanto uma como outra se distinguem, por sua vez, da Literatura Cristã Antiga, que se ocupa apenas dos aspectos estilísticos e filológicos dos escritores cristãos da antiguidade.

O criador do termo «Patrologia» foi o luterano J. Gerhard (+ 1637), na sua obra póstuma «Patrologia sive de primitivae ecclesiae christianae doctorum vita ac lucubrationibus oposculum», datada de 1653. O termo surgiu no contexto apologético da Reforma e com o objetivo de apelar para o testemunho dos Padres da Igreja como forma de justificação das idéias discutidas pelos reformadores e como resposta à «antiguidade» e consequente «autoridade» dos mesmos reformadores.

O termo «Patrologia» passou então a expressar, sobretudo, o estudo histórico e literário (vida e obra) dos escritores cristãos antigos, tratando-se assim de uma disciplina de caráter eminentemente histórico, cujas principais funções são:

a) Dar a conhecer a vida e a formação dos Padres e outros escritores eclesiásticos, tendo em conta o contexto que originou a composição das suas obras;
b) Estabelecer a lista dos seus escritos, distinguindo os verdadeiros dos falsos;
c) Apreciar o caráter e a importância das suas obras;
d) Expor os aspectos doutrinais mais importantes.

Na sua origem, o termo «Patrística» é um adjetivo ligado à Teologia. Surgiu também no século XVII entre teólogos luteranos e católicos para subdividir a Teologia em «bíblica, patrística, escolástica, simbólica e especulativa».

Deste modo, a «Teologia Patrística» tem por finalidade aprofundar, com fidelidade, o pensamento dos Padres da Igreja, para participar da compreensão que eles alcançaram dos mistérios da fé cristã.

Não se trata, portanto, de uma mera sistematização do pensamento patrístico, mas de uma verdadeira teologia, na medida em que procura compreender o mistério revelado e o desígnio de Deus, tendo como fonte e guia os Padres da Igreja [1].

Denomina-se, além disso, de patrística a época dos Padres da Igreja, que culminou no século VI, no Ocidente, com Santo Isidoro de Sevilha (+ 636) [2] e no Oriente, no século VIII, com São João Damasceno (+ 749).

Tratam-se efetivamente de oito séculos muito ricos do ponto de vista da reflexão teológica, constituindo, por isso, a época patrística ou época dos Padres, o «pilar» da construção teológica posterior.


NOTAS:
[1] Para um maior aprofundamento destas definições, Cf. L. PADOVESE, Op. Cit. 21-25; J. QUASTEN, Patrología I. Hasta el Concilio de Nicea (BAC, Madrid 1984) 1-6; A. di Berardino (dir.), Patrologia-Patristica, in Diccionario Patristico y de la antigüedad cristiana (DPAC) II (Verdad e imagen, Salamanca 1998) 1711-1712.
[2] Ainda que alguns autores queiram determinar o fim da época patrística no Ocidente com S. Beda Venerável (+ 735), não parece ser, pois, uma opinião unânime...

Fonte: ECLESIA

Um comentário:

  1. ótimo, perfeito auxilio na hora de minha maior nescessidade. Agradeço muito pela publicação deste belissimo trabalho,que tem por característica intelectual muito boa, atualizado. E é disso que precisamos, não só de cópias dos outros, mas de ajuda na mobilização do cérebro a estudar mais sobre todo e qualquer assunto que se achar interessante!

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