domingo, 17 de abril de 2011

A arte de ensinar


"Educar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles, cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais... Entendo assim a tarefa primeira do educador: Dar aos alunos a razão para viver”.
RUBEM ALVES



Nos ensinaram na escola que o importante na vida é ter que saber resolver as equações, teorias, raiz quadrada, polinômios, logaritmos. 

Quantas combinações possíveis existem em 10.564 números distintos.  E se tocar que infinito é aquilo que vira dízima periódica. O que vem a ser o tal do Pi. 

Aplicar análises sintáticas, morfológicas, pretérito mais que perfeito do indicativo, os quatro usos do "porque".  Estrutura de uma redação, dissertação e outros "ãos". 
Saber onde fica Alabama, Beijin, Estreito de Gibraltar, este ou aquele país. Decorar as capitais do Brasil. 

Entender atitudes de Hitler, Mussolini, Mao Tse Tung, Jânio e JK. Saber data da Guerra de Canudos, quem foi Dom Pedro e o que fez Getúlio. Porque a cruz da coroa da Hungria é torta. 

Descobrir o que é uma célula, uma molécula e a tabela periódica. 

Fazer desenhos de junção de átomos. Analisar a estrutura de uma substância. O que são prótons, íons e elétrons. O Ph das coisas. 

Sem deixar de lado os Hinos Nacionais, as cores primárias, secundárias e terciárias, passeando pelos ângulos, losangos, graus... 

Massacraram nossas mentes em fórmulas para descobrir em quantos segundos uma pedrinha de 10 gramas demora a chegar ao chão numa altura de 5 metros. Quanto tempo demora a ferver 1 litro de água na altitude zero ou a 450 metros.  Nos perdemos entre cálculos e textos. 

Tantos anos sentados numa sala de aula, diante de tantos professores, tantas decorebas, matérias, conhecimento geral. 

Tudo tão inútil... 

E hoje percebo que "eles", nossos professores, pouco falaram e ensinaram sobre a VIDA. 
Sim, a vida que a gente vive no dia a dia.

A fórmula certa para quando a gente se apaixona e parece que os pés não tocam o chão. 
O que é aquela reação química que acontece dentro de nós quando ficamos com medo. 
O de como agir de forma a não machucar ou magoar as pessoas.
De como ser íntegro.

De saber que mais importante que um dia de aula é sair por aí descalço numa tarde de primavera e apreciar o som do ar. 
Desafiar a lei da gravidade pulando de pára-quedas. 

Não... Não nos ensinaram a lidar com as pessoas, com o sentimento dos animais, com o retorno da natureza, com a energia que tem dentro de cada um e de cada lugar. Como fazer com que isso reverta a nosso favor. 

Não estimularam a descobrir que homens e mulheres pensam e agem de forma diferente por conta de seus hormônios.  Não disseram como combater a TPM, ou educar filhos, ou ter sucesso profissional. Como fazer para poupar dinheiro. Se tornar próspero. Não ser compulsivo nas compras num shopping. 

Como se conhecer, auto analisar e ver o padrão de quem está ao nosso lado para entendê-lo melhor. 

Ensinaram línguas estrangeiras, mas esqueceram da linguagem corporal, e saímos pelo mundo com a certeza que "sabemos" tudo, mas deixamos de lado o abraço, o sorriso, o bom dia a quem não conhecemos, por simples medo do contato... 

Não nos tocamos, e perdidos vamos tateando sozinhos até cada um se encontrar...  Quando se encontram. Esqueceram de falar de prazer, individualidade, respeito, direitos, dialogo, amor, raiva, esperança. 

Então penso: a escola deveria fazer um papel diferente. 

Não deveria apenas ensinar o que está nos livros, mas se cada um de nós por apenas quatro ou cindo aulas no ano, tivéssemos a oportunidade de ter escutado de nossos professores sua experiência de vida em alguma situação real, de como foi aquele vexame imperdoável, de onde arrumou recursos para sobreviver, aquela recordação de infância com cheiro de bolo de avó, da paixão quase inocente, da lição de moral dita pelo pai, da chave do carro roubada, do braço quebrado e de tantas outras coisas normais... Com certeza aquela seria a aula mais importante e inesquecível de nossas vidas. 

Sairíamos no mundo mais seguros, com menos grilos, mais leves e felizes. 
Professores são pessoas... Pessoas que formam GENTE! 

Fica aqui minha homenagem a estes mestres, que eu tenho certeza, que tem muito mais a ensinar do que rege o cronograma do Ministério da Educação. 

Tentem ao menos uma vez, ao entrarem na sala de aula, dizer: 

- Fechem seus cadernos, pois hoje vou falar de do tema VIVER... Alguma pergunta?  


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