Descobrindo o caminho |
Certas coisas nos espantam quando ouvimos algumas pessoas falarem sobre Deus e religião.
Ontem, parei num posto de combustível da Avenida Campos Sales (centro de Campinas) para abastecer. Encostei-me a uma bomba que fica rente à calçada, desci do carro e fiquei aguardando a presença de um frentista. Muitas pessoas passavam na calçada, mas de repente, ouvi o seguinte comentário:
- Fique tranqüilo, Deus vai te dar vitória; seus inimigos serão aniquilados.
Voltei-me para a rua e vi um senhor aparentando uns 35 anos, portando uma Bíblia, caminhando ao lado de um casal mais maduro e com eles conversando. A fala viera desta pessoa que estava carregando a Bíblia, o que faz pressupor que seja uma pessoa religiosa, provavelmente, seguidor de uma igreja evangélica ou protestante.
Se a frase ficasse só na primeira parte, nada haveria a contestar. Traduzir-se-ia por uma expressão que tentava dar alento ao casal. Mas, quando veio a segunda parte, o espanto foi enorme. Ela traz embutida em si, a idéia da vingança, da ira, do desejo de morte ao inimigo. E ai eu fiquei pensando: será que ele está se referindo ao mesmo Deus nas duas frases? Ou para ele existem dois deuses; um que lhe ajuda e outro que é destruidor?
Mas, claro e evidente, se carregava a Bíblia, ele seria, no mínimo um cristão, mas, em evidência muito maior, um cristão muito mal informado e que, através dessa má-formação, incutia aos demais uma idéia e um conceito totalmente deturpado do Deus no qual os cristãos acreditam.
De fato, este Deus em que acreditamos e que para nós é único em tri-unidade, nos ensina, pelo seu filho Jesus, a “amar o próximo, ainda que seja um inimigo, como a si mesmo” e a jamais desejar ao outro aquilo que não quer para si. E este Deus nos ensina que uma das maiores virtudes do ser humano é ser misericordioso e compassivo, perdoando ao infinito qualquer ofensa recebida.
Nas parábolas dos perdidos sobressai esta virtude divina do perdão, especialmente naquela que é considerada “o coração do evangelho”, a parábola do “Pai Misericordioso”. Apesar de todas as graves ofensas do filho mais novo praticada contra o pai (inclusive, implicitamente a de desejar a morte do pai), este pai recebe a acolhe aquele filho quando volta (maltrapilho, ferido, desnutrido e cabisbaixo), com toda alegria e contentamento, fazendo festa e comemorando a volta do filho perdido. Na parábola Jesus nos coloca na dúvida se este filho estava realmente arrependido, ou se pensava apenas em buscar uma forma de se safar de seus infortúnios. Mas isto não interessa ao pai, é seu filho que volta, o filho que estava morto e que revive por encontrar o caminho da volta ao lar paterno.
Quando coloco no título, um “outro” Deus possível, não estou, em absoluto, querendo dizer que existam outros deuses, mas apenas querendo dizer que é possível encontrarmos o único Deus verdadeiro, o Deus de Jesus. Para isto, devemos apenas entender o que disse o próprio Jesus em sua curta jornada missionária. No dicionário divino, a palavra “vingança” certamente figura como uma das mais negativas atitudes humanas. Se Deus é amor, como nos ensina o evangelista João, no amor não existe sequer a possibilidade de se desejar mal ao outro, menos ainda a de alimentar desejos de vingança.
Se fosse possível, eu diria ao autor desta frase tão infeliz, que ele precisaria estudar e refletir muito sobre a Palavra de Deus, pois que, embora ele a carregasse nas mãos, tudo indica que era apenas como adorno. Talvez estudar e refletir e se abrir à ação do Espírito o levasse a encontrar este “outro” Deus que ele parece desconhecer. E encontrando este Deus único e verdadeiro, ele encontraria o caminho e talvez não dissesse e ensinasse coisas tão absurdas.
Apenas uma observação final. Embora eu tenha dito que a atitude da pessoa me tenha feito pressupor que se tratasse de um evangélico, nada me garante isso, Poderia até mesmo se tratar de um cristão católico. Não é a confissão religiosa desta pessoa o cerne da questão. O cerne é a idéia errada e contraditória que ele faz de Deus. E que muitos cristãos, sejam católicos ou evangélicos ainda fazem.
Oi, Gazato
ResponderExcluirSeu texto cumpre a função ao nos fazer pensar sobre como as pessoas percebem a religião. Certo é que, em tempos de tolerância e de caminhos da paz, nenhuma religião prega a ira divina, não é, sequer, politicamente correto. É verdade que no Antigo Testamento é possível encontrar esta ideia que pessoas daqueles tempos tinham de Deus. Textos assim, acabam por revelar que sua redação possuem muito da mão do homem!
Seu texto nos faz pensar que o livro bíblia pode alimentar o mal e a vingança, tal como você destacou!
Por fim, faço a defesa de pessoas que reverberam coisas assim, pois a amioria delas delas não têm consciência do que dizem. Simplesmente repetem o ouvem!
Ah, parabéns pelo blog!
Abraços, Pedro
Obrigado Pedro. Entendo a sua defesa e creio que expresso este sentimento no texto. O que preocupa é que estamos vendo uma proliferação enorme de seitas que se dizem "evangélicas", cujos pretensos pastores muitas vezes disseminam esse tipo de ensinamento. Esse tipo de atitude depõe contra o próprio evangelismo, que possui em seu meio muita gente de boa vontade e de bom coração.
ResponderExcluirOlá, Gazato,
ResponderExcluirMuito oportuna sua observação nesse texto. Por ela se pode refletir como é difícil entender e mais ainda, viver a palavra de Deus. Quanto desconhecimento, quanta falta de compreensão,nas mínimas situações em que nos deparamos e mais, nas pessoas que se colocam em posições tais como essa presenciada por vc. É muito bom estar sempre atento e observar tudo o q acontece à nossa volta, na rua, no trabalho, até na igreja... Vamos desenvolvendo uma consciência crítica, que vai se traduzir em crescimento.
Com fraterno abraço,
Maria Lúcia
Olá Maria Lúcia. É bem verdade que devemos estar atento. Mas, de fato, esta situação relatada foi totalmente casual. Mas chamou muito a atenção... e assustou um pouco. Só quis compartilhar para acentuar a necessidade de se trabalhar contra esse tipo de pregação. Creio que acaba sendo muito pernicioso quando atinge pessoas mal informadas.
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