VIDA DE SÃO PAULO
Quem foi São Paulo?
Para conhecermos bem uma pessoa, temos que ter proximidade com ela. Chegarmos de mansinho, cada vez mais perto, ouvir a sua história, suas palavras, tocá-la de perto. Assim, vamos nos aproximar mais do Apóstolo Paulo, ele quer se revelar a nós hoje e tem “um dom espiritual para nos comunicar” (Rm 1,11).
Há três formas de conhecermos Paulo, através dos Atos dos Apóstolos, das suas cartas e por meio da Tradição Cristã.
O próprio apóstolo traça sua biografia
“Circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho de hebreus; quanto à Lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na Lei, irrepreensível” ( Fl 3,5).
Através dessa descrição de Paulo, percebemos vários elementos de sua vida, como por exemplo:
· Sua religião
· Qual a sua descendência familiar
· De qual movimento dentro do Judaísmo ele pertencia
· Como era seu comportamento
Onde Paulo nasceu?
Em uma cidade chamada Tarso, que é a capital da Cilícia, situada na Ásia Menor, região que hoje corresponde à Turquia.
• Tarso era uma importante cidade da Ásia Menor, com uma grande universidade e um centro intelectual para aqueles que desejavam estudar.
• Segundo os estudiosos, tinha aproximadamente 300 mil habitantes. Era também uma cidade portuária, com economia próspera e vida urbana agitada. Por Tarso passava a estrada romana que fazia ligação entre o oriente e o ocidente.
Nome
Saulo era o nome de Paulo antes do encontro com Jesus. Os judeus da diáspora costumavam ter dois nomes SAULO (hebraico) e PAULO (grego)
Shaúl = implorado, desejado
Paulo = Pequeno
Saul, o primeiro rei de Israel, era o personagem mais importante da Tribo de Benjamim, a qual a família de Paulo descendia. Certamente, os pais usavam colocar esse nome em seus filhos recordando o grande rei Saul. O mesmo ocorre hoje, como por exemplo, na região do Cariri, no Ceará, muitos pais colocam em seus filhos e filhas o nome Cícero ou Cícera em homenagem ou para pagar promessas ao pe. Cícero Romão.
Após seu encontro com o Cristo e na missão em meio aos gentios o “grande” Saulo, prefere ser chamado apenas de “pequeno”. Os judeus da diáspora eram aqueles que moravam fora da Palestina.
Estudos
Como era tradição de sua época, Paulo deve ter recebido a formação básica como judeu, primeiro, na casa dos pais e, logo após, na sinagoga local de Tarso e na escola ligada a sinagoga.
Segundo estudiosos, se quiséssemos traçar uma cronologia dos estudos de Paulo, seria mais ou menos assim:
Aos 7 anos, Saulo entrou na escola da sinagoga, no bairro judeu de Tarso,onde aprendeu a ler a língua grega;
· Aos 10 anos, concluiu o curso primário, e aos 11, sabendo ler bem o grego, começou o secundário;
· Aos 15 anos terminou o ensino secundário;
· Dos 16 aos 20 anos é provável que Saulo tenha escolhido um mestre da Universidade;
· Aos 20 anos, Saulo escolheu especializar-se na cultura e religião de seu povo de origem, e foi para Jerusalém e lá tem como seu mestre Gamaliel (cf. At 22,3).
A cidadania
O título que Saulo recebeu ao nascer em Tarso era o de terceira categoria. Havia uma escala de direitos na cidadania romana:
· Cidadãos plenos eram os que participavam do senado romano ou descendiam de famílias de imperadores ou senadores;
· Cidadãos patrícios eram de famílias ricas e comandavam os exércitos e as batalhas ou dedicavam-se à vida intelectual e ao magistério;
· Cidadãos plebeus eram livres, mas haviam sido escravos e depois libertos, ou seus descendentes que, mesmo nascendo livres, herdavam o título romano plebeu e sobreviviam com dificuldade, de um ofício manual.
Os cidadãos romanos plebeus eram desprezados pelas outras duas classes, porque faziam trabalho braçal. Gozavam de poucos privilégios e eram alvos das arbitrariedades dos juízes romanos. Como cidadão de Roma, Paulo gozava de alguns privilégios: não poderia ser flagelado, não podia ser crucificado, podia apelar para o Supremo Tribunal em Roma.
A escolha da profissão
· Paulo queria tornar-se um intelectual e subir na escala social, por isso escolheu o curso para ser doutor da Lei.
· Depois do seu encontro com Jesus, porém, Paulo aprendeu a trabalhar o couro, fabricava sandálias, cintos, tendas, bolsas etc.
· O trabalho com o couro era impuro para os judeus. Paulo, como missionário itinerante opta por ser um “trabalhador que anuncia o Evangelho”, por onde vai, procura um trabalho.
Isso não faz de Paulo um rico comerciante, pelo contrário, Paulo faz a opção de ser escravo, trabalha para os outros. O apóstolo não quer ser pesado para ninguém.
A Religião
Saulo era judeu e freqüentou a escola farisaica. Professava a fé na ação de Deus na história por meio daqueles que fossem fiéis ao seu projeto e procurassem o direito e a justiça.
O que Saulo pensava sobre Jesus?
· Como fariseu, Saulo considerava Jesus um traidor;
· Acreditava que Jesus era um falso mestre;
· Pensava que Jesus tinha recebido a morte que merecia (a cruz);
· Achava que os seguidores de Jesus tinham sido seduzidos por falsas promessas e deveriam voltar atrás.
O ACONTECIMENTO DE DAMASCO
Encontro com uma pessoa
Algumas Narrativas
• At 9, 1-22 – Narrativa de Lucas.
• At 22, 4-16 – Lucas narra Paulo falando de sua conversão ao povo.
• At 26, 9-18 – Lucas narra Paulo falando de sua conversão ao rei Agripa e demais presentes.
Alguns textos de Paulo em suas cartas que aludem ao fato
• Gl 1, 11-16 – ... Quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça.
• 1 Cor 15, 8-10 – Apareceu também a mim como um abortivo.
• Fl 3, 6-12 – Pois eu também fui alcançado por Cristo Jesus.
A pergunta de Jesus à Saulo
- Saulo, Saulo, porque você me persegue?
- Quem és tu, Senhor?
- Eu sou Jesus, a quem você está perseguindo. (At 9,4-5)
Jesus se identifica com a comunidade perseguida.
A luz de Damasco
Paulo se dirigia para Damasco e lá iria prender e torturar os cristãos, mas, no fundo a inteligência e o amor de Paulo o faziam duvidar... talvez poderia estar dando um passo errado. Sua luta e perplexidade foram tão grandes, que conseguiram derrubá-lo e fazê-lo pensar melhor. E Paulo caiu por terra, vencido por Jesus Cristo.
A luz do Ressuscitado, que envolveu Paulo, colocou em seu coração uma experiência do Mistério. Ele compreendeu que tudo era vazio e inútil sem ele. Depois, ao longo da vida, foi-se configurando sempre mais com Cristo até o ponto de dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (Gl 2,20)
A luz de Damasco foi luz afetiva, que inundou os olhos do coração de Paulo. Ele foi vencido pela luz. A luz é a fonte da missão. A partir de então Paulo tornou discípulo do Mestre Jesus e incansável missionário, anunciador da sua Palavra. “Porém, o que para mim era ganho, por causa de Cristo considerei perda. Mais ainda: considero tudo perda em comparação com o superior conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor.” (Fl 3,7-8)
Após sua conversão Paulo foi para Arábia, depois para Jerusalém encontrar-se com os apóstolos; de lá, retornou para Tarso por onde permaneceu por longos anos até ser chamado por Barnabé para ir à Antioquia da Síria e de lá com Barnabé (cf. At 13,2 ss) é enviado em missão. Durante sua vida, Paulo realiza quatro grandes viagens missionárias, funda comunidades, anima os cristãos, enfrenta muitas dificuldades (cf. 2 Cor 11, 23-28), escreve animando e orientando as comunidades.
Paulo foi martirizado por volta dos anos 64 a 68 em Roma, por ser cidadão Romano, foi decapitado. Segundo a tradição Cristã, quando Paulo foi decapitado, sua cabeça pulou três vezes e nos três lugares onde a cabeça do apóstolo pulou, brotaram fontes.
O túmulo do Apóstolo Paulo está na Basílica de São Paulo Fora dos Muros.
“Combati o bom combate, terminei minha carreira, conservei a fé.” (2Tm 4,7).
PAULO VIVO HOJE
Paulo é presente a cada vez que uma comunidade cristã proclama a Palavra vivida e comunicada por ele.
Somos chamados a atualizar, a reviver a experiência de Paulo hoje: deixar que a comunicação da graça do Espírito transforme nossas vidas, nossas comunidades e nossas ações apostólicas em martírio – testemunho – de Cristo vivo.
Que nosso nome faça parte da comunicação, da Palavra de Deus, na linguagem do presente, para todas as criaturas.
VIAGENS DE SÃO PAULO
A Missão
O termo grego apóstolo significa enviado, representante. Supõe que o enviado tenha os mesmos pensamentos e sentimentos daquele que o enviou e comunique fielmente a mensagem. Isso se aplica bem a Paulo e Barnabé, os primeiros a recebem o envio da comunidade de Antioquia da Síria e saem para a missão.
Primeira Viagem
(Anos 46-48; At 13-14)
Caracteristica: Abertura aos Pagãos
Paulo e Barnabé partem de Antioquia da Síria
Ilha de Chipre
Salamina – Anuncia Jesus na sinagoga depois atravessa a ilha a pé, evangelizando.
Pafos – Adota o nome romano Paulo. Anuncia o Evangelho ao procônsul romano e causa cegueira ao mago Barjesus.
Segue por mar para a Ásia menor.
Panfília
Perge – Marcos regressa da missão e Paulo fica irritado.
A Ásia Menor é atravessada pela Via Imperial Augusta ou Sebaste, que vai do porto marítimo de Éfeso até o porto fluvial de Tarso.
Psídia
Antioquia da Psídia – (Após andar 260 km a pé, pela Via Augusta, atravessando os montes Taurus repletos de salteadores, chegam à cidade.) Evangeliza na sinagoga, é perseguido pelos Judeus e se volta para os gentios.
Licaônia
Icônio – (Continuam a viagem pela Via Augusta, mais 140km) Evangeliza na sinagoga e é perseguido pelos judeus.
A população tenta linchá-lo e foge para Listra.
Listra – (outros 40 km da Via Augusta) Cura um paralítico e não entende o dialeto local. O povo também não entende o grego. É venerado como o deus Mercúrio. Chegam os de Icônio e convencem a população a apedrejá-lo. É arrastado para fora da cidade como morto. Volta a entrar na cidade e parte no dia seguinte.
Derbe – Evangeliza sem perseguição.
Regresso da primeira viagem
Paulo e Barnabé voltam por todas as cidades evangelizadas, “ordenando seniores” nas comunidades.
Tomam um navio no porto de Atália e regressam a Antioquia da Síria, onde relatam a missão para a comunidade.
Concílio de Jerusalém (cap 15)
Os Judaizantes de Jerusalém vão a Antioquia da Síria e defendem a circuncisão dos gentios.
A comunidade envia Paulo e Barnabé a resolverem a questão com os apóstolos.
Em Jerusalém, narram tudo o que fizeram entre os pagãos.
Os apóstolos concordam que os pagãos não precisam converter-se ao judaísmo antes de serem cristãos.
Reenviam os dois a Antioquia da Síria, acompanhados por Silas, trazendo uma carta para a comunidade.
Segunda Viagem
(Anos 49-52; At 15,36-18,23)
Característica: Entrada do Evangelho na Europa
Paulo decide visitar as comunidades fundadas na primeira viagem, mas desentende-se com Barnabé e convida Silas (Silvano) a acompanha-lo.
Visitam as regiões da Síria e da Silícia e voltam às comunidades de Derbe e Listra.
Em Icônio, encontram Timóteo.
Passam por Antioquia da Psídia e por Trôade.
Atravessam o mar Egeu e entram na Europa.
O norte da Macedônia é cortado pela Via Ignátia, que vem de Roma e acaba no mar Negro, após a cidade de Filipos.
Macedônia (Europa)
Filipos - Fundam a comunidade em casa de Lídia. Paulo exorciza uma escrava e é açoitado e preso.
urante a noite a prisão se abre e Paulo e Silas são libertados.
Ao saber que são cidadãos romanos, as autoridades se apavoram e pedem que deixem a cidade.
Seguem viagem e passam por Anfípoles e Apolônia.
Tessalônica - Paulo evangeliza na sinagoga e muitos crêem. É perseguido e sai da cidade.
Beréia - Prega e é bem recebido pelos gregos, mas logo chegam os judeus de Tessalônica e ele parte para Atenas.
Acaia
Atenas - É convidado a falar no Areópago prega o kerigma cristão para os filósofos e é mal recebido.
Corinto – Chega na cidade, vindo de Atenas. Conhece Priscila e Áquila, judeus tendeiros.
Habita com eles durante um ano. Os judeus o acusam ao procônsul galeão, mas não são atendidos.
Regresso da segunda viagem
Sai de Corinto e segue pelo mar Egeu até Éfeso.
Prossegue pelo Mediterrâneo para Cesaréia e de lá, para Antioquia da Síria.
Terceira Viagem
(Anos 49-52; At 15,36-18,23)
Característica: “Os habitantes da Ásia, judeus e gregos puderam ouvir a Palavra do Senhor.”
(At 19,10b)
Paulo parte mais uma vez de Antioquia da Síria e o retorno é pela Cesáreia e Jerusalém.
Acompanhado de Silas, começa a viagem por terra, visitando as comunidades da Galácia e da Frígia.
Jônia
Éfeso - Na comunidade já existente, Paulo encontra Apolo, Judeu convertido.
Impõe as mãos e invoca o Espírito Santo sobre os irmãos. Permanece por dois anos evangelizando na escola de Tirano. Manda queimar livros de magia e é acusado pelos ourives da deusa Artêmis.
Macedônia
Volta a visitar Filipos, Tessalônica e Beréia.
Acaia
Passa três meses, certamente em Corinto.
Macedônia volta e fica um tempo em Filipos, de onde começa o regresso da terceira viagem.
Regresso da terceira viagem
Parte de Filipos pelo mar Egeu, para a Frígia.
Frígia
Trôade - Preside a fração do pão com a comunidade e faz uma longa homilia noite a dentro. Reanima o jovem que havia caído da janela.
Panfília
Mileto - Reúne os líderes das comunidades e se despede. Segue pelo Mediterrâneo para o porto de Tiro.
Síria
Tiro – Permanece por sete dias com a comunidade depois continua viagem por terra rumo a Jerusalém.
Tolemaida – Passa e descansa por um dia na comunidade.
Palestina
Cesaréia – Visita os irmãos. Todos recomendam que não vá a Jerusalém. Decide ir porque está pronto a morrer por Jesus Cristo.
Fim da terceira viagem – chegada a Jerusalém
Permanência em Jerusalém e na prisão de Cesaréia (cap.21-26)
Jerusalém – Ao chegar, procura os apóstolos. Entra no templo, é perseguido e preso. Fala ao povo e conta sua conversão. Os judeus começam a linchá-lo. É recolhido pelos soldados e levado para a fortaleza.
Os romanos o apresentam ao Sinédrio para ser julgado. Mas nada se conclui.
É enviado a Cesaréia, com escolta, por ser cidadão romano.
É julgado pelo procurador Félix.
Permanece na fortaleza com permissão para receber os amigos.
É novamente julgado pelo procurador Festo, diante do rei Agripa.
Para livrar-se das acusações dos judeus, apela a César.
Quarta Viagem
(Anos 52-62; At 15-28,23)
Característica: o testemunho de Paulo chega até os confins do mundo.
É preso sob a guarda do centurião Júlio.
Embarca por mar e o navio costeia a Palestina.
Ao aportar no porto de Sidom, tem permissão de visitar a comunidade.
Volta ao navio e a viagem segue rumo a Chipre.
Lá, embarca no navio alexandrino que vai para a Itália.
Passa pela ilha de Creta.
Segue para a Itália e o navio naufraga na tempestade, perto da ilha de Malta.
Passa o inverno em Malta.
Na primavera, embarca no navio Dióscoro.
Chega ao porto de Pusuoli, na cidade de Óstia, na Itália.
Vai a pé para Roma.
Aluga uma casa, onde habita e recebe judeus e gentios até ser julgado e condenado e receber o martírio entre os anos de 64 e 68.
Introdução às Cartas de Paulo
O conjunto das Cartas Paulinas compreende um total de treze Cartas que reivindicam a paternidade do Apóstolo Paulo. A ordem em que se encontram no cânon bíblico não reflete a data em que foram escritas, mas foram organizadas segundo a sua extensão.
Alguns procuram agrupar as Cartas do seguinte modo:
a) Cartas maiores: Romanos,1-2 Coríntios, Gálatas e 1-2 Tessalonicenses.
b) Cartas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon.
c) Cartas pastorais: 1-2 Timóteo e Tito
Outra classificação pode ser feita a partir da possível autoria das mesmas:
a) Cartas Proto-Paulinas: que seguramente são autênticas, isto é, que são de autoria do Apóstolo Paulo, e que são aceitas por todos os estudiosos: Romanos, 1-2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon.
b) Cartas Deutero-Paulinas: são aquelas cuja autenticidade não é segura ou é negada por certo número de estudiosos: Efésios, Colossenses e 2 Tessalonicenses.
c) Cartas Trito-Paulinas: 1-2 Timóteo e Tito. Essas dificilmente seriam do Apóstolo Paulo, pois usam uma linguagem diversa e tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do I século.
É certo que algumas Cartas de Paulo foram perdidas. Em 1Cor 5,9 já se fala de uma Primeira Carta aos Coríntios. Em Cl 4,16, Paulo se refere a uma Carta escrita aos cristãos de Laodicéia. E temos ainda a famosa “Cartas em lágrimas” aos Coríntios (2Cor 2,4). Alguns estudiosos afirmam também que a Carta aos Filipenses é um conjunto de vários bilhetes. E também que a 2Cor é um ajuntamento de várias cartas, enviadas em datas diferentes.
Outro aspecto interessante é o de que as cartas não foram escritas do próprio punho do Apóstolo. Ele as ditava (cf. Rm 16,22) e às vezes assinava (cf. Gl 6,11). Talvez a carta a Filemon tenha sido o único escrito com sua própria mão.
Uma constante nas cartas de Paulo é a afirmação que ele faz da sua vocação. Por várias vezes lembra que o seu ser apóstolo de Jesus Cristo é sinal primordial da intervenção divina na sua vida. À missão de evangelizar os gentios ele se dedica por inteiro e busca formas novas, através das cartas, de se fazer presente junto às comunidades fundadas por ele como missionário itinerante. Escrever era a forma de manter viva a fé das comunidades, porque Paulo não podia estar em todas elas ao mesmo tempo. Isso tudo para que o evangelho seja anunciado.
O núcleo da mensagem de Paulo em todas as suas cartas é o Kerigma cristão, ou seja, o anúncio da morte e ressurreição de Jesus. Toda a teologia paulina é gerada a partir do evento da cruz, sinal de escândalo, portanto, de fraqueza, transformado em princípio de salvação e ressurreição. Portanto, para compreender Paulo é importantíssimo considerarmos a crucificação de Jesus, sua morte e ressurreição.
Paulo é um escritor que anuncia o Evangelho, ou melhor, é um missionário que escreve. Ele é poeta e culto, mas para fazer-se compreender usa palavras simples e profundas. Todas as suas cartas são portanto, como que geradas do seu coração. E assim Paulo deixa transparecer em cada palavra que escreve sua paixão por Jesus e pelo seu povo.
Breve comentário das Cartas Paulinas
Romanos
Quando Paulo esteve em Roma?
Provavelmente entre 61 e 62, prisioneiro e deportado para o tribunal do imperador, onde foi martirizado por volta do ano 67.
Onde foi escrita?
Em Corinto (inverno de 55\56).
Como era a comunidade?
Formada de cristãos vindos da Palestina e da Síria, provavelmente expulsos pelo imperador Cláudio, no ano 49.
Qual a finalidade da carta?
Corrigir certas interpretações a respeito da pregação de Paulo entre os pagãos, provavelmente levadas a Roma por judeus e por cristãos judaizantes. O apóstolo expõe de maneira serena e organizada o que já havia exposto em Gl – A gratuidade da salvação vem pela fé – ele opõe o Cristo Justiça de Deus ao Cristo da justiça que os homens pretendiam merecer por seus próprios esforços. Paulo diz que a morte e ressurreição de Jesus operaram a destruição da humanidade antiga, viciada pelo pecado de Adão e a recriação de uma humanidade nova, da qual Jesus Cristo é o protótipo.
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1 Coríntios
Quando Paulo esteve em Corinto?
Paulo chega à Corinto em abril de 50, após ter passado por Atenas e lá volta outras vezes.
Onde foi a carta foi escrita?
Provavelmente na Páscoa de 54
Como era a comunidade?
A comunidade situava-se em Corinto, que era uma cidade portuária e grande centro comercial, com população pluralista e composta de cidadãos romanos e escravos. Tinha tendências e religiões romanas, egípcias e gregas. A comunidade foi fundada na casa de Priscila e Áquila, artesãos de couro, com os quais Paulo deve ter trabalhado. Na comunidade havia várias classes sociais, a maioria era gente pobre, sobretudo escravos. Por isso, a comunidade era predisposta para a divisão, sobretudo pela diversidade cultural e econômica, o que causava muita competição.
Qual a finalidade da carta?
Trata de problemas vividos pela comunidade, informações e decisões cruciais para o cristianismo primitivo, tanto em sua vida interior – pureza dos costumes, matrimônio e virgindade, ordem das assembléias e celebração eucarística, uso dos carismas – como também o relacionamento como o mundo pagão – apelo aos tribunais, carnes oferecidas aos ídolos etc. Lembra em que consiste a verdadeira liberdade da vida cristã, a santificação do corpo, a diversidade dos carismas, o primado da caridade, que é o sustentáculo da comunidade, a união a Cristo.
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2 Coríntios
Onde a carta foi escrita?
Em Éfeso, por volta de 55.
Qual a finalidade da carta?
Paulo defende o seu apostolado, diante daqueles que queriam afastar a comunidade de Paulo, alegando que ele não era apóstolo e portanto, que sua mensagem não merecia a consideração dos coríntios. Por essa razão, Paulo descreve a grandeza do ministério apostólico e também discorre sobre o tema concreto da coleta para a Igreja de Jerusalém, inspirado pelo ideal de união entre as igrejas.
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Gálatas
Quando Paulo esteve na Galácia?
Paulo esteve na Galácia em sua primeira viagem missionária (por volta dos anos 46 a 48), na segunda viagem, na primavera de 52 e talvez outras duas vezes.
Onde a carta foi escrita?
Em Éfeso ou na Macedônia entre 54 e 55.
Como era a comunidade?
A Galácia é uma região da Ásia Menor, e a comunidade lá auxiliou Paulo quando estava enfermo. Por isso, Paulo tinha pelos Gálatas um grande afeto, se sentido pai e mãe daquela comunidade. Mas, correntes judaizantes quiseram ridicularizar e se posicionar contra a pregação de Paulo também na comunidade da Galácia.
Qual a finalidade da carta?
Gálatas representa um grito que parte do coração de Paulo, no qual a apologia pessoal se justapõe à argumentação doutrinal e às advertências que ela faz à comunidade. Paulo demonstra indignação e defende seu apostolado. É uma argumentação vibrante em prol da liberdade cristã e universalidade da Igreja. A carta aos Gálatas é muitas vezes citada na carta aos Romanos.
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Filipenses
Quando Paulo esteve em Filipos?
Paulo chega a Filipos durante sua segunda viagem, entre 48 e 49 e lá retorna duas vezes na terceira viagem. Ao chegar à cidade, ele não vai à sinagoga, como era o seu costume, mas fala às mulheres que estavam nas margens do Rio rezando.
Onde a carta foi escrita?
Quando Paulo estava preso em Éfeso (anos 55\57) ou em Roma (anos 61\62).
Como era a comunidade?
Filipos era um importante centro comercial entre o Oriente e o Ocidente, até ser conquistada por Roma em 42 a.C. Uma cidade onde viviam muitos oficiais romanos, de religiões derivadas dos cultos gregos (como a deusa Ísis) e dos cultos romanos (deuses Júpiter, Mercúrio, Minerva e Diana). A comunidade é fundada na casa de Lídia, que ao escutar a pregação de Paulo convida-o e a seus companheiros a se hospedarem na casa dela, se eles a considerassem digna da mensagem que acabaram de anunciar.
Qual a finalidade da carta?
A comunidade de Filipos é considerada a comunidade amada por Paulo, é a única comunidade da qual Paulo aceita receber algum auxílio também material. Por isso, ele escreve para agradecer a ajuda enviada pela comunidade enquanto ele estava preso. Aproveita para advertir contra algumas situações de competição existentes na comunidade e previne contra os pregadores judaizantes ao relembrar que a autenticidade do Evangelho vivido e anunciado pelos cristãos está na cruz de Cristo.
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1 Tessalonissenses
Quando Paulo esteve em Tessalônica?
A Tessalônica foi evangelizada na segunda viagem de Paulo, do outono de 49 à primavera de 50. De lá, Paulo saiu fugido para Atenas e Corinto. O apóstolo deve também ter retornado a essa comunidade no verão de 54 e na primavera de 55, após os dissabores de Corinto e Éfeso.
Onde a carta foi escrita?
Em Corinto, durante o verão de 51.
Como era a comunidade?
Tessalônica era um importantíssimo ponto comercial, pois além de estar na rota da via Inácia (Ignatia), tinha um ótimo porto aberto para o mar Egeu. Supõe-se que os membros da comunidade fossem todos provenientes de escravos e da classe de pequenos comerciantes, que mal tinham com o que viver. O próprio ambiente de trabalho freqüentado por Paulo pode ter sido tão pobre quanto o do trabalho escravo. Do ponto de vista da religião havia as divindades romanas e locais.
Qual a finalidade da carta?
Dar instruções sobre a Parusia (acreditavam que haveria uma segunda vinda de Cristo) e enviar boas notícias aos tessalonicenses. É considerada uma carta escatológica, onde Paulo adverte à comunidade a ter calma em ralação à Parusia e ao mesmo tempo ser vigilante. Nesta etapa primitiva do seu apostolado, Paulo encontra-se todo concentrado na Ressurreição de Cristo e na sua vinda na glória, que trará a Salvação aos que tiverem acreditado nele.
A primeira carta deixa entrever que era uma igreja jovem e fervorosa, firme no meio dos sofrimentos. Ela nos diz algo sobre as crenças dos cristãos uns vinte anos depois da ascensão: a Trindade, Deus como Pai, a missão de Jesus Messias, sua morte, ressurreição e futuro retorno, as três virtudes, fé, esperança e caridade.
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Filemon
É uma carta à um Cristão de Colossas (Filemon) que era um cristão de boa posição e que tinha um escravo fugido: Onésimo.
Onde a carta foi escrita?
Na prisão de Roma entre 61 e 63
Qual a finalidade da carta?
Expressa o dilema entre o Evangelho levado às últimas conseqüências, de não se tornar somente uma lei, nem insensível aos dilemas humanos. Paulo acredita que o Evangelho pode mudar as relações entre as pessoas, por isso, escreve à Filemon (provavelmente convertido pelo apóstolo) para aceitar novamente Onésimo, que ele havia encontrado na prisão e que, provavelmente havia pedido a intervenção de Paulo e fosse perdoado pelo patrão. Paulo então, pede a Filêmon que aceite Onésimo não mais como escravo, mas como irmão.
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Deutero paulinas – Os erros combatidos são posteriores a Paulo e pertencem mais à idéias gnósticas do século II.
Colossenses
Quando Paulo esteve em Colossos?
Fundada por volta do ano 53, por um nativo que Paulo havia batizado e evangelizado em Éfeso.
Onde foi escrita?
Na prisão de Roma (61 a 63)
Como era a comunidade?
Composta da miscigenação de cultos mistérios com ritos e veneração a divindades gregas. A comunidade durou apenas 7 anos, pois no ano 60, antes da morte de Paulo, foi atingida por um terremoto e desapareceu.
Qual a finalidade da carta?
Carta cristológica. O principal problema da comunidade foi um erro de interpretação causado pelo sincretismo religioso. Procuravam experiências exóticas e fortes e a presença de vários mestres. O autor desenvolve a centralidade de Jesus Cristo, cabeça da Igreja. Ele incorpora pessoas à sua morte e ressurreição.
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Efésios
Quando Paulo esteve em Éfeso?
Depois de passar pelas comunidades da Galácia, chegou a Éfeso em 52. Foi preso no verão de 54 e retornou em 55.
Onde a carta foi escrita?
Na prisão de Roma (61 a 63)
Como era a comunidade?
A comunidade situava-se numa cidade portuária, com muitos edifícios, entre os quais se destacava o templo dedicado à deusa Artemis. A comunidade de Éfeso já existia antes da chegada de Paulo. Uma florescente comunidade cristã, de pagãos convertidos.
Qual a finalidade da carta?
Carta eclesiólógica. Deus revela seu plano por Jesus Cristo, desenvolvido na Igreja, que é povo de Deus e esposa do Messias e já não espera a Parusia, mas se empenha no constante crescimento.
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Tardias
2 Tessalonissenses
1 Timóteo e 2 Timóteo
Tito