domingo, 5 de junho de 2011

A Lei Áurea foi escrita a lápis… E daí?

Minhas desculpas por não ter replicado esta reflexão na época própria. Ela foi publicada pelo Autor, certamente para nos servir de meditação por ocasião da Comemoração da edição da Lei Áurea, no dia 13 de maio, à qual nós denominamos Lei da Abolição da Escravatura no Brasil.

Só encontrei o texto recentemente e em data já bem posterior ao Dia de tal comemoração. E, por sua profundidade, é uma meditação que deveria ter sido muito mais divulgada. Embora parta de alguém que nos diga, nas entrelinhas, ser um representante do que denominamos “raça negra”, sua reflexão vai muito mais além da “libertação dos escravos negros no Brasil”. Ela nos faz refletir sobre a liberdade de todo o gênero humano e de como ela vem sendo violentada sistematicamente desde sempre pelo próprio ser humano, de variadas formas e, muitas vezes, sob o slogan de “liberdade plena”.
Verificamos que atualmente, independente da cor da pele, um contingente enorme de pessoas, na realidade, a maioria da humanidade, vem sendo escravizada e oprimida de múltiplas formas.

Intencionalmente, mantive os comentários que foram feitos e que mostram um pouco destas diversas formas de escravidão, de restrição à liberdade.

Apenas para exemplificar, temos acompanhados nos últimos tempos inúmeros escândalos políticos envolvendo corrupção, apropriação de bens públicos e outros delitos praticados direta ou indiretamente, por aqueles que elegemos para serem nossos representantes nos vários níveis da política nacional.

Ouso dizer que somos escravos desta corja, pois, apesar de serem nossos representantes pelo mandato do voto, eles nos, oprimem, pisoteiam e se enriquecem, enquanto a maioria do povo brasileiro esta sendo relegada, cada vez mais, à miséria física e cultural. Oprimem-nos com uma carga tributária que faz vergonha se comparada aos demais países ditos em desenvolvimento; pisoteiam-nos, desviando desta enorme carga tributária grande parcela para uso próprio; escravizam-nos, com sistemas assistenciais e de saúde precários, com serviços públicos que atuam de forma vergonhosa, nos impondo humilhações e vexames; escravizam-nos com a manipulação dos meios de comunicação, para nos passarem uma imagem de “santos salvadores” e depois se tornam “personificações de satanás”. E, com a maior “cara de pau”, quando descobertas e denunciadas as falcatruas, dão “um jeitinho” para se safarem e voltarem nas próximas eleições como “vítimas da oposição” e, através da manipulação midiática, são novamente eleitos, para continuarem a lesar seus “escravos”.

De fato, Flávio Sapucaia tem toda razão quando afirma: A escravidão ronda permanentemente a nossa vida, independente da cor de nossa pele.”.

A nós todos, que nos consideramos irmãos, independente de qualquer atributo físico, de qualquer ideologia, de qualquer condição econômica, mas apenas pela nossa filiação divina, creio que a reflexão pode nos dizer e nos ajudar muito a pensar em nossa “liberdade”.

Ao seu Autor Flávio Sapucaia, parabéns!; aos nossos leitores, desejos de que a leitura desta reflexão os façam enxergar e entender o verdadeiro sentido da “liberdade”!  A inserção do poema de Cruz e Souza ao final é nossa.


A Lei Áurea foi escrita a lápis… E daí?

Publicado por editor em 11 de maio de 2011 em Reflexões • 3 comentários
Flávio Sapucaia

Dentre as inúmeras formas de perpetuação e disseminação do racismo, as piadas são as mais sutis. Nas rodas de amigos, nas empresas, no churrasco em família é comum aquele engraçadinho que gosta de trazer seu portfólio de piadas preconceituosas e racistas, sem contar com a Internet que proporciona um enorme poderio de disseminação desta prática, através da proliferação por emails destas piadinhas sem graça, das quais nem temos o direito de nos ofender, pois os racistas de plantão logo nos acusam de não agüentar brincadeira. Como se racismo fosse brincadeira…

Neste sentido, estas “brincadeiras” são transmitidas às crianças, perpetuando entre as gerações esta forma sutil do racismo, que chegam às nossas escolas e se constituindo uma das principais causas de violência no ambiente escolar.

Dentre as diversas piadas que agüentei desde a infância, a mais “batida” delas era ouvir, todo dia 13 de maio, que a Lei Áurea foi escrita a lápis e que poderia ser apagada a qualquer momento, voltando assim à escravidão.

Confesso que tinha medo, até porque as novelas e filmes da época nos assustavam com a violência em que viviam e sofriam os escravos nas fazendas de café.

Porém, hoje eu pergunto: e daí se esta lei foi escrita a lápis, caneta, pena ou laser?

A liberdade não nos foi dada por ninguém, na canetada. A luta contra a escravidão iniciou mais de três séculos antes com a organização dos quilombos, tendo como principal o Quilombo dos Palmares, com cerca de vinte mil escravos fugitivos das fazendas.

Paulo Freire, um dos maiores educadores da nossa história, ensina que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (Pedagogia do Oprimido). Ensina-nos também que a liberdade não é um presente, mas um bem que se enriquece na luta. É o nosso bem mais precioso e por isto os inimigos a ameaçam constantemente. “Precisamos, por isso, lutar, ora para mantê-la, ora para reconquistá-la, ora para ampliá-la”. (Pedagogia da Indignação).

Amartya Sen, um indiano que ganhou o prêmio Nobel de 1998 em ciências sociais por seu trabalho sobre as causas da fome e da pobreza, traz em seu livro Desenvolvimento como Liberdade, um conceito interessante sobre as liberdades instrumentais, às quais associa com alguns dos direitos básicos de todo cidadão, como destaque a liberdade política, facilidade econômica, oportunidades sociais, liberdade de expressão e de transparência e, por fim, de segurança protetora.

Deste modo, ter nossos direitos ou liberdades assinados, independente se a lápis, caneta ou laser, não representa o início, nem tampouco o fim, mas a continuidade de uma luta para se garantir o cumprimento destes direitos a toda sociedade, de maneira justa e igualitária.

A escravidão ronda permanentemente a nossa vida, independente da cor de nossa pele. Ser escravo é sentir-se impotente perante as diversas agressões aos nossos direitos básicos como educação e saúde de qualidade, segurança pública, saneamento básico, acesso à informação, inclusão digital, direito à moradia, assistência social e jurídica, transporte público, melhores condições de vida, emprego, dentre outros que, apesar de constarem no documento mais importante de nosso país, a Constituição Federal do Brasil, ainda não se tornaram realidade para todos os brasileiros.

Deste modo, a luta pela liberdade de todos os brasileiros, escravos do descaso e do desrespeito às leis e direitos tão duramente conquistados, deve ser permanente para garantir a ampliar seu alcance. Só seremos livres quando nos tornarmos um povo unido e sem preconceitos.


Esta é a importância do dia 13 de maio como o Dia Nacional de Denúncia do Racismo.




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Papai adorei seu texto, eu acho que você esta certo sobre isso por que eu concordo que racismo é uma atitude desumana.
Por causa disso também acho que o dia 13 de maio é importante para pensarmos em nossas atitudes.
BEIJOS LAURINHA SUA FILHA
2.    http://www.gravatar.com/avatar.php?gravatar_id=abef43f7ce60227a0af1f14702f22ce6&size=60&default=http%3A%2F%2Fuse.perl.org%2Fimages%2Fpix.gifMárcio Oshiro em 13 de maio de 2011, 12:21:
Hoje, ninguém duvida que o Brasil é um país independente e uma república. Assim, as comemorações de 07 de setembro e 15 de novembro servem como lembranças oficiais e folga para os mortais comuns. E é assim que um feriado deve ser encarado, uma data de recordação. A manutenção da independência e da república deve ser um exercício diário. E o 13 de Maio acertadamente não é lembrada pelos mortais comuns, pois não há nada a ser lembrado. A libertação dos escravos foi apenas uma das etapas que só terminará quando todo ser humano for respeitado por ser humano, independente de raça, cor, credo, sexo. E, a ciência já provou que não existem diferenças biológicas entre as chamadas raças humanas e se especula que a humanidade iniciou na África. Bom artigo, caro amigo.
Sapucaia, parabéns pelo seu texto!!!!!
Todos somos escravos dos políticos, principalmente dos políticos corruptos, que são a maioria em nosso BRASIL!!! mas com luta tenho fé que um dia iremos conseguir mudar isto, talvez nossos netos irão viver este momento, mas para isto precisamos de pessoas como você para iniciar uma luta já!!!!
Mais uma vez …. P A R A B E N S ! ! !
                                                                       Fonte:



Livre! Livre!

Ser livre da matéria escrava,
Arrancar os grilhões que nos flagelam
E livre, penetrar nos dons que selam
A alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

Livre da humana, da terrestre bava
Dos corações daninhos que regelam
Quando os nossos sentidos se rebelam
Contra a infâmia bifronte que deprava.

Livre! bem livre para andar mais puro,
Mais junto à natureza e mais seguro
Do seu amor, de todas as justiças.

Livre! para sentir a natureza,
Para gozar, na universal grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.

(Cruz e Souza)

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