sexta-feira, 17 de junho de 2011

A FESTA LITÚRGICA DA SANTÍSSIMA TRINDADE


No próximo domingo, dia 19 de Junho de 2011, a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade, o maior e mais profundo mistério da fé cristã.

«Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por Ele»


Evangelho segundo São João (Jo 3, 16-18)

“Deus amou tanto o mundo
que entregou o seu Filho Unigênito,
para que todo o homem que acredita n’Ele
não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo
para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por Ele.
Quem não acredita n’Ele já está condenado,
porque não acreditou no nome do Filho Unigênito de Deus.”

O Evangelho desta Solenidade da Santíssima Trindade é lido segundo o contexto do terceiro capitulo do Evangelho segundo São João. Nicodemos é um bom fariseu, apaixonado por Deus, pela sua Lei, é um homem aberto ao diálogo, um homem que procura a Verdade. Ouvindo falar do Mestre, deseja encontrá-lo pessoalmente. O diálogo dá-se de noite, talvez porque ele tinha medo dos judeus. Mas muitas vezes a noite é associada à idéia da escuridão, e esta, à falta de luz, de claridade, então neste sentido a noite de Nicodemos é aquela da dúvida, da incompreensão. Ele não quer ficar na incompreensão, ou no saber que Jesus existe porque os outros lho contaram: ele vai à procura, põe-se em caminho. E encontra!

A festa da Santíssima Trindade é um dos dias mais importantes do ano litúrgico. Nós, como cristãos a celebramos convictos pelos ensinamentos da Igreja, que possui a plenitude das verdades reveladas por Cristo. É dogma de fé estabelecido,  a essência de um só Deus em Três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. É um mistério de difícil interpretação, impossível, de ser assimilado pelas limitações humanas.  

O Catecismo da Igreja Católica, no nº 234 explicita:

“O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Ele é o mistério do próprio Deus. É, portanto a fonte de todos os outros mistérios da fé, luz que os ilumina. É o mais fundamental e essencial ensinamento na "hierarquia das verdades da fé" (DCG 43). Toda a história da salvação não é mais que a história do caminho e dos meios pelos quais O Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, se reconcilia, unindo os homens que se afastam do pecado (DCG 47)”. (DCG = Diretório Geral da Catequese).


Santo Agostinho de Hipona, grande teólogo e doutor da Igreja, tentou exaustivamente compreender este inefável mistério.  Certa vez, passeava ele pela praia, completamente compenetrado, pediu a Deus luz para que pudesse desvendar o enigma.  Até que se deparou com uma criança brincando na areia. Fazia ela um trajeto curto, mas repetitivo.  Corria com um copo na mão até um pequeno buraco feito na areia, e ali despejava a água do mar; sucessivamente voltava, enchia o copo e o despejava novamente. Curioso, perguntou à criança o que ela pretendia fazer.  A criança lhe disse que queria colocar toda a água do mar dentro daquele buraquinho.  No que o Santo lhe explicou ser impossível realizar o intento. Aí a criança lhe disse: “É muito mais fácil o oceano todo ser transferido para este buraco, do que compreender-se o mistério da Santíssima Trindade”. E a criança, que era um anjo, desapareceu... 

Santo Agostinho concluiu que a mente humana é extremante limitada para poder assimilar a dimensão de Deus e, por mais que se esforce, jamais poderá entender esta grandeza por suas próprias forças ou por seu raciocínio. Só o compreenderemos plenamente, na eternidade, quando nos encontrarmos no céu com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Na reflexão intitulada “ELE (DEUS) ESTÁ DENTRO DE NÓS”, publicada neste blog, fizemos a seguinte analogia (não se esqueçam que é apenas uma analogia grosseira para tentar pensar a Trindade Santa).

“Nenhum ser humano, despido de qualquer aparato tecnológico, jamais viu ou verá o Sol. O que vemos é a sua luz. Ninguém, a olho nu, poderá dizer: ou Sol é feito disso ou daquilo; o Sol tem montanhas ou é uma planície; o Sol é sólido ou é gasoso,... Enfim, não enxergamos o Sol em suas formas e composição. Não o vemos, mas sabemos que ele está lá. E por quê? Por que vemos sua luminosidade radiante que nos propícia a vida! Mas sentimos algo ainda que não vemos e podemos dizer com toda certeza que ele existe: o calor do Sol. O calor que faz a vida na terra existir. Sem ele, morreríamos congelados.
Nessa grosseira analogia, podemos forçadamente comparar o Sol ao Pai, que jamais foi visto, mas sabemos que Ele existe, que Ele está lá, em algum lugar do Cosmo, criando e nos propiciando a vida. O Pai é o DEUS PARA NÓS; ora, vemos a luz do Sol, assim como o mundo viu Jesus. Para nós, assim como a luz personifica o Sol, Jesus personifica o Pai. O Pai realmente existe, pois Ele nos mandou sua Luz, que ilumina nossos corações e nossas vidas. Jesus é o DEUS CONOSCO; não vemos o calor do Sol, mas o sentimos em nossa pele, em nosso corpo e se ele nos faltar um só dia, toda a humanidade perecerá. Assim também sentimos a ação do Espírito Santo que age em nosso ser, em nossa consciência, nos indicando sempre o reto caminho a seguir. Mas, assim como nos escondemos do calor do Sol quando ele está abrasador, assim também nos escondemos á ação do Espírito Santo, quando Ela nos diz para seguir caminhos que, por nossa concupiscência[i], não queremos seguir. O Espírito Santo É O DEUS EM NÓS.
Não podemos jamais dissociar as Três Pessoas da Santíssima Trindade. Quando no referimos à ação do Pai, à ação de Jesus, o Filho, ou à ação do Espírito Santo, o Paráclito, não podemos jamais nos esquecer que estamos nos referindo, na verdade, à ação da Santíssima Trindade! É a Trindade Santa que age, assim como é o Sol inteiro que age sobre o nosso Planeta.

Ícone de Rublev, representando os três anjos que visitaram
Sara e Abrão (pré-figuração) e a Santíssima Trindade.
O anjo da esquerda representa o Pai, o do centro o Filho
e o da direita, o Espírito Santo.

                              DEUS PAI – Não foi criado e nem gerado. É o “princípio e o fim, princípio sem princípio”; por si só, é Princípio de Vida, de quem tudo procede;  possui absoluta comunhão com o Filho e com o Espírito Santo.  Atribui-se ao Pai a Criação do mundo. 

                            DEUS FILHO – Procede eternamente do Pai, por quem foi gerado, não criado. Gerado pelo Pai porque assumiu no tempo Sua natureza humana, para nossa Salvação. É Ele Eterno e consubstancial ao Pai (da mesma natureza e substância). Atribui-se ao Filho a Redenção do Mundo.   

                         DEUS ESPÍRITO SANTO – Procede do Pai e do Filho; é como uma expiração, sopro de amor consubstancial entre o Pai e o Filho;  pode-se dizer que Deus em sua vida íntima é amor, que se personaliza no Espírito Santo. Manifestou-se primeiramente no Batismo e na Transfiguração de Jesus;  depois, no dia de Pentecostes sobre os discípulos. Habita nos corações dos fiéis com o dom da caridade. Atribui-se ao Espírito Santo a Santificação do mundo.

O Pai é pura Paternidade, o filho é pura Filiação e o Espírito Santo, puro nexo de Amor. São relações subsistentes, que em virtude de seu impulso vital, saem um ao encontro do outro em perfeita comunhão, onde a totalidade da Pessoa está aberta à outra distintamente. Este é o paradigma supremo da sinceridade e liberdade espiritual a que devem ter as relações interpessoais humanas, num perfeito modelo transcendente, só assim, compreensível ao entendimento humano.  É desta forma que devemos conhecer a mensagem da Santíssima Trindade, mesmo sem alcançar os segredos do seu mistério.  Desta maneira, devemos nos comprometer a adquirir certas atitudes nas nossas relações humanas. A Igreja nos convida a “glorificar a Santíssima Trindade”, como manifestação da celebração. Não há melhor forma de fazê-lo, senão revisando as relações com nossos irmãos, para melhorá-las e assim viver a unidade querida por Jesus: “Que todos sejam um”.

Ao participarmos da Santa Missa observamos  que, desde o início, quando nos benzemos, até o momento da bênção trinitária final,  constantemente o sacerdote invoca a Santíssima Trindade, particularmente durante a pregação eucarística. As orações que o padre pronuncia após a consagração, que por certo são dignas de serem ouvidas com atenção e recolhimento, são dirigidas a Deus Pai, por mediação de Jesus Cristo, em unidade com o Espírito Santo. E é na missa onde o cristão logra vislumbrar, pela graça do Espírito Santo, o mistério da Santíssima Trindade. Devemos, neste momento, invocar ao Deus Trino, que aumente nossa fé, porque sem ela, será impossível crer neste mistério, mistério de fé no sentido estrito. Mesmo sem conseguir penetrar na sua essência o cristão deverá, simplesmente, crer nele. 

Feliz Domingo da Santíssima Trindade!

                                   Márcia Resck e Gazato
E-REFERÊNCIAS




Catecismo da Igreja Católica, Ed. Loyola, 1.999, SP

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