O Resto de Israel
Para ser o resto de Israel é necessário descer as montanhas, é necessário segurar a manhã com a mão e molhar o chão com o suor do próprio corpo.
Para ser o resto de Israel é preciso não temer, não ter mais nada a perder, cultivar solitário a última figueira e dela esperar um único fruto.
Para ser o resto de Israel não basta simplesmente ser católico, há que ser cristão e se reconstruir o templo do coração, em carne e misericórdia.
Para ser o resto de Israel, chorar é preciso e navegar nas lágrimas da última quimera desfeita, é ter certeza que a mão que afaga jamais apedrejará.
É atender o pobre, é cuidar do ferido, é servir a mesa do indigente, da viúva e do órfão, e sempre que tiver feito tudo ao seu alcance, sentir-se como um servo inútil.
O resto de Israel é como a última semente, na terra ressequida, esperando uma gota de chuva.
É como a arca do ancião que navegou em águas tenebrosas e viu a criação ser quase toda destruída e mesmo assim jamais perder a esperança, pois ela mesma é a esperança.
Ser o resto de Israel é brigar com Deus para subir a escada que dá no paraíso e não conseguindo vencer a Deus, sair ferido na coxa para sempre, e mesmo assim não desistir.
O resto de Israel trás dentro de si a certeza de Abraão e a liturgia de Melquisedec. Carrega consigo a ternura de Maria e o medo dos discípulos. Tudo espera, tudo crê, tudo conforta. É amável, humilde e puro. É terra e é água.
Não se assombra com dificuldades, não teme o futuro, não se desola mais.
É a última semente da Terra. Nela Deus vai colocar seu sopro.
Para ser o resto de Israel é preciso ...
Amar ...
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Este texto foi publicado no Jornal Igreja Nova, da Arquidiocese de Olinda e Recife, nº 110, edição de março/abril de 2004. Ao final o editor faz a seguinte dedicatória:
DEDICAMOS ESTE JORNAL A TODOS QUE, COMPROMETIDOS COM O EVANGELHO, RENOVAM, A CADA DIA, A ESPERANÇA NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO NOVO.
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